sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Segunda Coluna na Newsletter Skeptical Briefs

por Felipe Nogueira

Como expliquei em um post anterior, sou colunista regular da Skeptical Briefs, que é a newsletter da organização de divulgação científica, do ceticismo e pensamento crítico The Committee of Skeptical Inquiry. 

Na edição de inverno de 2014/2015, foi publicada minha segunda coluna, um artigo com o título Pseudoscience and Bad Science in the Brazilian Scientific American (Pseudociência e Ciência Ruim na Scientific American Brasil). 

Nessa coluna, eu discuti sobre alguns artigos ruins que foram publicadas sob o nome da Scientific American Brasil. É importante enfatizar, como eu fiz na coluna, que a revista brasileira é diferente da americana, com o seu próprio processo editorial. A edição brasileira tem o direito de publicar artigos traduzidos da revista original assim como adicionar artigos escritos por jornalistas ou pesquisadores brasileiros. 

O motivo da minha coluna foi um artigo sobre ansiedade publicado na edição de Outubro de 2014 da Mente e Cérebro, uma revista brasileira que também tem o nome da Scientific American na sua capa. O artigo foi escrito por uma jornalista brasileira e sub-editora da revista. O problema é que a última seção do artigo era qualquer coisa menos ciência. Era uma defesa e recomendação do uso da acupuntura para tratar ansiedade inundada com afirmações pseudocientíficas, como "Cada emoção está relacionada com um órgão - a ansiedade está assoaciada ao coração". (Em resposta à essa seção terrível, enviei uma crítica por email à editora da revista) 




Mencionei também outros dois artigos publicados na Scientific American Brasil. Um deles foi uma nota pseudocientífica sobre homeopatia publicada em 2012 e a médica Harriet Hall já o criticou de forma pertinente no blog Science Based Medicine.

O outro artigo não era pseudociência, mas a conclusão do autor sobre os efeitos do uso de maconha na saúde não era apoiada pelos dados que ele apresentou, exagerando os riscos, dizendo, por exemplo, que a causalidade entre o uso de maconha e episódios psicóticos está estabelecida. No entanto, os autores do artigo Adverse Health Effects of Marijuana Use, publicado no New England Journal of Medicine em 2014, concluíram que não é possível determinar com confiança que a maconha causa episódios psicóticos, mesmo que os usuários de maconha estão mais propensos a terem episódios psicóticos do que os não usuários.

A divulgação científica já está em falta no Brasil. Certamente não precisamos que as coisas piorem com revistas de prestígio como a Scientific American publicando artigos pseudocientíficos ou com ciência ruim nas suas revistas brasileiras.  

sábado, 24 de janeiro de 2015

Psicologia Anomalística

por Felipe Nogueira

Diversos psicólogos estudam como e por que as pessoas acreditam em diferentes coisas. Na divulgação científica, Michael Shermero psicólogo e fundador da Sociedade dos Céticos, já escreveu diversos livros nesse tema, como Cérebro e Crença e Por Que As Pessoas Acreditam Em Coisas Estranhas. Como outro exemplo, há também o psicólogo Bruce Hood, autor de Supersentido  

Há um tempo descobri o campo chamado Psicologia Anomalística. O psicólogo Christopher French é o diretor e criador da Unidade de Pesquisa de Psicologia Anomalística (APRU - Anomalistic Psychology Research Unit) na Universidade de Londres, Goldsmiths. Segundo French, a psicologia anomalística 
tenta explicar crenças paranormais e relacionadas e ostensivamente experiências paranormais em termos de fatores físicos e psicológicos conhecidos (ou conhecíveis). É voltada a entender experiências bizarras que muitas pessoas têm, sem assumir que há algo paranormal envolvido.  
Junto com a professora de psicologia anomalística e pensamento crítico Anna Stone, French é autor do interessante livro Anomalistic Psychology. O livro apresenta uma revisão bem abrangente das pesquisas da psicologia anomalística. Por exemplo, o Capítulo 2 resume as pesquisas que investigam as diferenças individuais associadas com a crença no paranormal, como idade, gênero, status socioeconômico, etc.

Sempre me lembro de há pessoas que insistem que há evidências científicas para a existência do paranormal (existência de espíritos, comunicação com mortos, percepção extranssensorial, psicocinese, etc.).  Entretanto,  French e Stone são bastante claros no seguinte trecho do livro
É possível, é claro, que as pessoas acreditem no paranormal porque forças paranormais realmente existem e essas pessoas tiveram uma experiência pessoal dessas forças. Essa é uma possibilidade que vem sendo levada a sério por muitos dos melhores intelectuais da história da ciência e considerável quantia de tempo e esforço vem sendo dedicada para provar que forças paranormais realmente existem. Depois de mais de um século de sérias pesquisas científicas investigando essa possibilidade, a comunidade científica permanece não convencida pelas evidências produzidas até hoje. O Capítulo 10 desse livro apresenta uma visão geral da parapsicologia que conclui que, embora algumas abordagens atuais aparentam pelo menos merecer pesquisas adicionais, a comunidade científica está completamente justificada no seu ceticismo. 
Em relação às evidências de testes controlados com médiuns, os autores dizem que diversos estudos solicitaram que mediums fornecessem uma leitura para diferentes pessoas. Posteriormente, cada pessoa era solicitada a escolher a leitura que melhor aplicasse a ela. De acordo com os autores, os resultados mostram que as pessoas não conseguem selecionar as leituras corretas, não oferecendo apoio para a hipótese da sobrevivência da consciência (que alguma parte da consciência sobrevive a morte).  

Como não terminei de ler, minha revisão do livro, se eu fizer, ficará para outro post. No entanto, o livro é bastante abrangente, explorando diversos tópicos relacionados à crença ou experiências paranormais.  Como exemplos:
  • crenças na infância; 
  • experiências de quase morte e experiências extracorpóreas
  • vieses cognitivos e vieses da memória;
  • leitura fria;
  • reconhecimento de padrões em dados aleatórios;
  • afirmações de contatos alienígenas;
  • o status científico da paranormalidade. 
A minha previsão é que qualquer um interessado na psicologia da crença, como eu, irá considerar esse livro bastante interessante e uma leitura obrigatória.